12 de novembro de 2012
Esperança
(Ela tentava agarrar-se à melodia que a embalava e tranquilizava. Ela queria acreditar que era possível. Abraçava esse desejo com todas as forças.)
A lua cedia os seus aposentos ao sol e este por sua vez cedia-os à lua. Eventualmente, o sol, majestoso e grande, decidiu tomar um outro rumo. A lua, discreta e pequenina, encarou todo o espaço e brilhou para não se perder.
(Ela acreditou sempre, todos os dias, de todas as vezes que o sol dava lugar à lua e a lua ao sol. Um dia, os astros deixaram de fazer sentido e nesse dia ela desejou ser capaz de voltar a compreender).
Quando surge um pouco de esperança todo o mundo se ressente e batalha para a aniquilar.
1 de outubro de 2012
Facing the White Bull
Tenho toda uma página em branco à minha frente a ser invadida por uns pontos pretos. Estes pontos juntam-se como os soldados em pleno combate.
Eles formam legiões e têm um aspecto assustador. Quase que vemos formas desenhadas no seu conjunto. Formas muito diferentes. Tão diferentes umas das outras que nem as letras do abecedário.
E entre curvas e rectas vão criando espaço para manejar melhor as suas armas. E o branco, o imenso branco, fica a ocupar esse espaço, manejando também as suas armas.
É um combate de cores neutras. Há luta pelo espaço.
E não são assim todos os combates? Culpo a cor e o espaço. Desde a cor da pele e da bandeira até à cor dos pontos e da página. Desde o território definido por fronteiras até à página e até ao espaço e mais além.
Resta colorir este combate neutro e arranjar mais papel branco. Talvez resulte. Certo?
20 de agosto de 2012
Lealdade
Sempre gostei de animais. Aquelas criaturas que são tidas como sendo inferiores aos humanos. E sempre tive animais de estimação. É uma expressão feia, não é? Animais de estimação... Mas é assim que nós humanos usualmente os tratamos e encaramos.
Já tive periquitos (detesto a ideia dos pássaros estarem presos em gaiolas), um papagaio (não o prendíamos na gaiola e um dia ele decidiu voar para mais longe), peixes e uma tartaruga (era tão grande a Didi que a cobiçaram e, a meio da noite, levaram-na do lago onde ela habitava), um coelhinho albino (o pobre coitado morreu e ainda hoje não consigo encarar a ideia de se comer coelho), gatos (imensos gatos, centenas de gatos) e finalmente, há cerca de meio ano, os meus pais cederam e realizaram o meu grande desejo de ter um cão. Eles foram mais longe e trouxeram-me duas cadelinhas. Elas iam ser abandonadas e eles decidiram ficar com elas.
Cheguei a casa depois de um curso em Coimbra e o meu pai diz-me para ir à cozinha ver o que lá estava. Cheguei lá e nada vi. O meu pai e irmãs vão lá e retiram uma mantinha e o que estava lá? Dois peluches! Dois peluches que saltavam e corriam e me lambiam a cara. As perguntas foram: “são reais?”, “são para nós?”. De facto eram. Eram reais e eram para nós.
Estas duas pequenas criaturas cresceram. Elas cresceram pouquinho, continuaram uns peluches pequeninos. Mas cresceram tanto em nós...
Se estamos em baixo elas percebem. Deitam-se à nossa beira e ficam lá solidárias com a nossa tristeza ou melancolia. Se estamos com dores elas percebem e ficam ao nosso lado. Elas percebem. Percebem por vezes muito melhor do que aqueles que são tidos como superiores e mais “humanos”.
Nós não as domesticamos. Elas domesticam-nos a nós. Daí essa expressão ser feia e injusta. Elas são capazes de nos tranquilizar e estão sempre à nossa espera para um mimo e por um segundo de atenção. São estas pequenas criaturas de 4 patas que nos amansam e sossegam.
O ser humano cumprimenta-se perguntando se “está tudo bem” à espera de receber um “está tudo óptimo”. Elas sentem e respondem sentindo e sendo tudo para nós. E é assim que percebemos que não é preciso palavras para que nos percebam. E é assim que se percebe como se lida com humanos. É assim que se percebe o que é ser humano. Ironia, não é?
Os humanos não sabem. Estão demasiado concentrados com as suas coisas e o seu umbigo e o seu mundo. Acabam por não saber lidar com eles mesmos nem com os outros. Andam chateados uns com os outros e desentendem-se e muitas das vezes não percebem porquê.
A Lara e a Kelly...
Esta semana somos nós que temos de nos deitar ao seu lado a toda a hora
Estão ambas doentes. A Lara por fora. A Kelly por dentro.
Desta vez somos nós que nos deitamos ao pé delas e ficamos tristes com e por elas. E elas ficam tristes uma com a outra. Elas são solidárias uma com a outra. Se a Kelly está mais dorida, então a Lara deita-se ao pé da irmã e fica lá. De início apenas a Larinha estava doente e a Kelly ficava ao lado dela. Não fazia o que habitualmente faz... simplesmente ficava lá.
Isto não é ser humano?
Meio ano e é o que basta para ficarmos de rastos com a possibilidade destes peluches tão frágeis nos deixarem. Isso é assustador. Meio ano e significam tanto...
Ninguém ou muita pouca gente irá prestar atenção a isto e provavelmente muitos não irão ler estas palavras. Mas para quem as ler e gostar destes animais de quatro patas: Esforcem-se para adoptar um cão que esteja abandonado. Reunam condições para o ter e tratem dele. Tratem bem dele! Apaixonem-se por ele e deixem que ele cresça nos vossos corações.
O facto da Kelly se ter deitado aqui ao meu lado toda dorida magoa e fico imensamente preocupada quando ela não consegue andar ou subir para o sofá. Ficamos com um aperto no peito e dá uma certa dose de desespero. É como se fosse uma pessoa que nos é querida e próxima... só que não é pessoa. Pessoa vem de persona, de máscara. A pessoa manipula, mente, oculta e nem sempre é verdadeira. Elas são sempre verdadeiras.
Magoa-me também saber que estes tesourinhos iriam vaguear pelas estradas até serem atropelados por um carro caso não o tivéssemos acolhido.
Posto isto...
Não é um favor que fazem aos cães apenas, é um favor que fazem a vocês mesmos. Adoptem. Não comprem... adoptem!
Deixo aqui estas palavras demasiado açucaradas para uns e provavelmente demasiado banais para outros. São contudo um testemunho do que é ser dono destes animais maravilhosos que nos surpreendem a cada dia que passa.
<3
22 de abril de 2012
Vamos saltar em pocinhas de água?
Há cerca de seis anos tive um daqueles momentos em que soube que algo ia mudar. Sentia mudança. Esses ventos de mudança sentem-se por serem reais. Sentimos esses ventos. É algo palpável e real. Fará sentido dizer que o vento é palpável? Já lá chegaremos...
Nessa altura também tinha um blog. Colocava lá fotografias minhas e alguns pensamentos. Dessas fotografias advinham sentimentos e a minha sensibilidade perante o que lá estava retratado.
Nessa altura de mudança deixei de publicar fotografias. Houve mudança de facto. A vida mudou de cenário, surgiram novas personagens e o próprio guião dava pouca margem de manobra para ter mais tempo para essas pequenas coisas de outrora. Nessa altura fiz um post final com um retrato meu e de uma "personagem" (ou persona) que então me acompanhou nessa mudança e coloquei uma música como fundo. Redigi um texto despedindo-me de pessoas reais e irreais agradecendo por tudo o que tinha sido partilhado.
Lembro-me que na altura tinha fiéis visitantes que por algum motivo apreciavam as minhas fotografias e iam frequentemente a esse local fisicamente inexistente para ver uma entidade real que aí projectava um pouco de si. Eu.
Recordo-me perfeitamente dos seus comentários de despedida. Tenho essa in(felicidade) de ter uma memória de elefante quanto às mais pequenas coisas. Aquele tipo de memória fotográfica... aquela memória capaz de focar a imagem e ver o detalhe. E lembro-me ainda dessas palavras. Lembro-me de referirem o quão a música tinha sido bem escolhida. Diziam que era Eu. A música era Eu, o meu Eu projectado naquelas fotografias. A verdade é que se escolhi aquela música... algo de mim teria. Teria de fazer sentido de alguma forma, certo? Para mim sempre fez sentido mas na verdade nunca compreendi. É muito difícil compreender o "gosto" e o motivo e razão pela qual nutrimos determinado afecto por determinada obra de arte.
Hoje fui ao cinema ver o “We bought a Zoo”. Quando soube da existência desse filme há uns meses fiquei em êxtase. Não pela temática (interessante e fofinha) nem pelos actores (interessantes e fofinhos também) mas pela banda sonora que o ia acompanhar. Sigur Rós. Vi o filme e foi uma experiência. Uma experiência diferente... Não é um grande filme com um enorme argumento e com talento a esbordar por todo o lado. Não é exuberante nem rebuscado. Tal como a música deles, o filme é simples, etéreo e repleto de inocência e pureza.
A Hoppipolla foi a música que coloquei nesse post de despedida. A Hoppipolla dos sigur rós.
Hoje cheguei a casa com as minhas irmãs, enquanto o céu explodia com fogo de artifício. Fomos verificar as cadelinhas e o seu possível nervosismo com esse mesmo fogo e o seu ruído. A terra tremeu um pouco. Houve imenso ruído. Os sentidos trabalharam... E bom, lembrei-me. Lembrei-me que ao longo dos tempos tinha criado um outro blog (este) e por ironia do destino lembrei-me que o tinha denominado de:
http://brosandihoppipolla.blogspot.pt.
A hoppipolla é o meu despertador. Literalmente já o foi de facto e acordava todos os dias ao som dessa música. Nunca me apercebi contudo como ela era realmente importante e muito menos a razão para tal. Sabem como é a sensação de ter um despertador que não tem como função despertar-nos do nosso sono? Sabem como é a sensação de termos um despertador que nos acorda da/para a nossa própria vida?
Esses despertadores podem ser diversas coisas... desde os nossos irmãos, a nossa família, os nossos amigos, as nossas aventuras, os nossos animais ou até uma simples música. Esse filme foi uma experiência para mim por isso mesmo. Está lá tudo e de forma muito simples, discreta e inocente. Tal como na música em questão.
Quando me falaram que Eu estava naquela música eu não percebi. Pensei que era algo dito de modo leviano (e provavelmente até foi) mas é engraçado como hoje percebi que vivo uma música e que essa música me desperta. Hoje percebi que realmente me podem ver nessa música. Um pouco de mim está nesses 4 minutos de som e silêncio.
Quanto ao vento... O vento é palpável sim. Basta pegar num papagaio de papel e lança-lo ao ar. Libertá-lo. Um papagaio de papel vermelho num céu azul com um vento gentil e meigo a transportá-lo...
Era esta a mensagem que vos queria deixar. Para quem não conhece a música em questão... ouçam. Pensem nela e nas suas palavras e até podem pensar em mim que não me importo. Se estão a ler isto é porque existo nas vossas vidas e de alguma forma sou real.
O facto da língua ser imperceptível não importa. Engane-se quem pensa que precisamos da língua para perceber a (ir)realidade. É apenas um acessório. E para quem estiver interessado... vejam o filme. Pode ser que percebam o mesmo que eu ou algo diferente... mas de qualquer forma pode ser que me vejam um pouco por lá. É sempre uma boa forma de ficar em contacto com toda a gente independentemente de estar mais ou menos presente nesta (ir)realidade.
A ideia é essa. E a mensagem passa por aí.
Quando sorrimos o mundo é uma enorme mancha. Quando nos molhamos completamente e caímos dentro de uma poça de água... quando sangramos... Resta-nos erguer novamente.
E depois de tudo isto... sim, é tudo tão claro e vejo tudo com brilhantes raios de sol. Imaginemos uma fotografia com árvores e muita luz a abraçá-las. Ou imaginemos uma face a sorrir e uma mancha branca muito ténue a atravessá-la em direcção ao céu...
Porque vieram novos tempos de mudança e eu molhei-me... Caí na poça de água e sangrei. Sangrei um pouco. Mas levantei-me. Decidi saltar nas pocinhas e brincar e sorrir e ser feliz. E creio que mais do que nunca tenho essa mancha ténue em frente da minha face com todo um caminho brilhante estendido até ao céu. E o vento leva-me e é gentil comigo e o meu sol... o meu sol agora pertence-me.
En ég stend alltaf upp
(I'll always stand up again)*
Um sorriso :)
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