22 de abril de 2012

Vamos saltar em pocinhas de água?

Há cerca de seis anos tive um daqueles momentos em que soube que algo ia mudar. Sentia mudança. Esses ventos de mudança sentem-se por serem reais. Sentimos esses ventos. É algo palpável e real. Fará sentido dizer que o vento é palpável? Já lá chegaremos... Nessa altura também tinha um blog. Colocava lá fotografias minhas e alguns pensamentos. Dessas fotografias advinham sentimentos e a minha sensibilidade perante o que lá estava retratado. Nessa altura de mudança deixei de publicar fotografias. Houve mudança de facto. A vida mudou de cenário, surgiram novas personagens e o próprio guião dava pouca margem de manobra para ter mais tempo para essas pequenas coisas de outrora. Nessa altura fiz um post final com um retrato meu e de uma "personagem" (ou persona) que então me acompanhou nessa mudança e coloquei uma música como fundo. Redigi um texto despedindo-me de pessoas reais e irreais agradecendo por tudo o que tinha sido partilhado. Lembro-me que na altura tinha fiéis visitantes que por algum motivo apreciavam as minhas fotografias e iam frequentemente a esse local fisicamente inexistente para ver uma entidade real que aí projectava um pouco de si. Eu. Recordo-me perfeitamente dos seus comentários de despedida. Tenho essa in(felicidade) de ter uma memória de elefante quanto às mais pequenas coisas. Aquele tipo de memória fotográfica... aquela memória capaz de focar a imagem e ver o detalhe. E lembro-me ainda dessas palavras. Lembro-me de referirem o quão a música tinha sido bem escolhida. Diziam que era Eu. A música era Eu, o meu Eu projectado naquelas fotografias. A verdade é que se escolhi aquela música... algo de mim teria. Teria de fazer sentido de alguma forma, certo? Para mim sempre fez sentido mas na verdade nunca compreendi. É muito difícil compreender o "gosto" e o motivo e razão pela qual nutrimos determinado afecto por determinada obra de arte.
Hoje fui ao cinema ver o “We bought a Zoo”. Quando soube da existência desse filme há uns meses fiquei em êxtase. Não pela temática (interessante e fofinha) nem pelos actores (interessantes e fofinhos também) mas pela banda sonora que o ia acompanhar. Sigur Rós. Vi o filme e foi uma experiência. Uma experiência diferente... Não é um grande filme com um enorme argumento e com talento a esbordar por todo o lado. Não é exuberante nem rebuscado. Tal como a música deles, o filme é simples, etéreo e repleto de inocência e pureza.
A Hoppipolla foi a música que coloquei nesse post de despedida. A Hoppipolla dos sigur rós. Hoje cheguei a casa com as minhas irmãs, enquanto o céu explodia com fogo de artifício. Fomos verificar as cadelinhas e o seu possível nervosismo com esse mesmo fogo e o seu ruído. A terra tremeu um pouco. Houve imenso ruído. Os sentidos trabalharam... E bom, lembrei-me. Lembrei-me que ao longo dos tempos tinha criado um outro blog (este) e por ironia do destino lembrei-me que o tinha denominado de: http://brosandihoppipolla.blogspot.pt. A hoppipolla é o meu despertador. Literalmente já o foi de facto e acordava todos os dias ao som dessa música. Nunca me apercebi contudo como ela era realmente importante e muito menos a razão para tal. Sabem como é a sensação de ter um despertador que não tem como função despertar-nos do nosso sono? Sabem como é a sensação de termos um despertador que nos acorda da/para a nossa própria vida? Esses despertadores podem ser diversas coisas... desde os nossos irmãos, a nossa família, os nossos amigos, as nossas aventuras, os nossos animais ou até uma simples música. Esse filme foi uma experiência para mim por isso mesmo. Está lá tudo e de forma muito simples, discreta e inocente. Tal como na música em questão. Quando me falaram que Eu estava naquela música eu não percebi. Pensei que era algo dito de modo leviano (e provavelmente até foi) mas é engraçado como hoje percebi que vivo uma música e que essa música me desperta. Hoje percebi que realmente me podem ver nessa música. Um pouco de mim está nesses 4 minutos de som e silêncio.
Quanto ao vento... O vento é palpável sim. Basta pegar num papagaio de papel e lança-lo ao ar. Libertá-lo. Um papagaio de papel vermelho num céu azul com um vento gentil e meigo a transportá-lo... Era esta a mensagem que vos queria deixar. Para quem não conhece a música em questão... ouçam. Pensem nela e nas suas palavras e até podem pensar em mim que não me importo. Se estão a ler isto é porque existo nas vossas vidas e de alguma forma sou real. O facto da língua ser imperceptível não importa. Engane-se quem pensa que precisamos da língua para perceber a (ir)realidade. É apenas um acessório. E para quem estiver interessado... vejam o filme. Pode ser que percebam o mesmo que eu ou algo diferente... mas de qualquer forma pode ser que me vejam um pouco por lá. É sempre uma boa forma de ficar em contacto com toda a gente independentemente de estar mais ou menos presente nesta (ir)realidade.
A ideia é essa. E a mensagem passa por aí. Quando sorrimos o mundo é uma enorme mancha. Quando nos molhamos completamente e caímos dentro de uma poça de água... quando sangramos... Resta-nos erguer novamente. E depois de tudo isto... sim, é tudo tão claro e vejo tudo com brilhantes raios de sol. Imaginemos uma fotografia com árvores e muita luz a abraçá-las. Ou imaginemos uma face a sorrir e uma mancha branca muito ténue a atravessá-la em direcção ao céu... Porque vieram novos tempos de mudança e eu molhei-me... Caí na poça de água e sangrei. Sangrei um pouco. Mas levantei-me. Decidi saltar nas pocinhas e brincar e sorrir e ser feliz. E creio que mais do que nunca tenho essa mancha ténue em frente da minha face com todo um caminho brilhante estendido até ao céu. E o vento leva-me e é gentil comigo e o meu sol... o meu sol agora pertence-me. En ég stend alltaf upp (I'll always stand up again)* Um sorriso :)