27 de outubro de 2009

Norwegian wood





I once had a girl, or should I say, she once had me...
She showed me her room, isn't it good Norwegian wood?

She asked me to stay and she told me to sit anywhere,
So I looked around and I noticed there wasn't a chair.

I sat on a rug, biding my time, drinking her wine,
We talked until two and then she said: "It's time for bed"

She told me she worked in the morning and started to laugh.
I told her I didn't, and crawled off to sleep in the bath

And when I awoke, I was alone, this bird had flown
So I lit a fire, isn't it good Norwegian wood.



The Beatles - Norwegian wood


O Norwegian wood de Haruki Murakami não tem apenas o nome desta música de Beatles. Este livro vem acompanhado de banda sonora e a Norwegian wood certamente nos remete para as páginas deste fabuloso livro.
Há um rapaz e há uma rapariga.
I once had a girl, or should I say, she once had me...
Além dessa rapariga há outras. Há sensualidade, amores e descobertas. A metamorfose de uma fase para outra, a transformação de um adolescente em adulto. É o ciclo da vida e a memória…
A minha memória tem-se tornado cada vez mais ténue e já esqueci muitas coisas. Quando escrevo assim de memória, sinto frequentemente uma pontada de pavor. E se esqueci já a coisa mais importante? E, se algures dentro de mim, há um escuro limbo onde todas as memórias verdadeiramente importantes estão amontoadas e começam lentamente a transformar-se em lama? p. 17

A memória do passado, a tristeza e a perda… mas a vida e o seu ciclo perdura. É pois um livro de descobertas, de descobrir o caminho, o equilíbrio e a simplicidade.
Nunca consigo expressar o que pretendo dizer – continuou a Naoko. – Há já bastante tempo que tem sido assim. Tento dizer algo, mas só me saem as palavras erradas: as palavras erradas ou as palavras exactamente opostas àquilo que pretendia dizer. E, se tento corrigir-me, pioro ainda mais coisas. Além do mais, esqueço-me de imediato do que estava a tentar dizer. É como uma metade a perseguir a outra metade à volta de um poste enorme e largo. O outro eu tem as palavras exactas, mas este eu não consegue apanhá-la. – Levantou a cabeça e olhou-me nos olhos. – Isto faz algum sentido para ti? p. 31, 32

É a procura da essência. É uma viagem interior. É o constatar que por mais difícil que seja temos de nos apoderar desse ciclo e simplesmente caminhar e encontrar o nosso caminho.

Quando recordo o ano de 1969, tudo o que me ocorre é a imagem de um pântano: um pântano profundo e viscoso que parece prestes a atolar-me os sapatos sempre que dou um passo. E caminho através da lama, exausto. À frente e atrás de mim, não vejo nada a não ser a infindável escuridão de um pântano. O próprio tempo arrastava-se ao ritmo dos meus passos hesitantes. As pessoas à minha volta há muito que prosseguiram em frente, mas eu e o meu tempo ficáramos para trás a debatermo-nos com a lama. O mundo ao meu redor estava prestes a sofrer grandes transformações. (…) Todavia, essas «mudanças» não passavam de encenações bidimensionais, panos de fundo desprovidos de substância ou significado. Arrastava-me ao longo de cada dia e raramente levantava a cabeça, sempre de olhos presos no infindável pântano que se estendia à minha frente: apoiava o pé direito e erguia o pé esquerdo, apoiava o pé esquerdo e erguia o pé direito, nunca sabia onde estava, nunca sabia se me dirigia na direcção certa, sabia apenas que tinha de continuar a avançar, um passo de cada vez. P. 285

É um livro com muita música mas também acompanhado de silêncio.
Tem uma certa tristeza e balanceia entre o conhecido e o desconhecido. É toda uma viagem e há imensas descobertas. As palavras de Murakami em Norwegian wood são delicadas mas também são fortes, tanto abordam a vida como abordam a morte.
A morte existe, não como o oposto da vida mas como parte dela. É um cliché transposto em palavras, embora nessa altura não o sentisse como palavras mas como um nó de ar dentro de mim. A morte existe – num pisa papéis, em quatro bolas vermelhas e brancas numa mesa de bilhar – e continuamos a viver e a respirá-la para dentro dos pulmões como uma poeira fina. p. 36


Pensei muito em ti durante todo este tempo. Quanto mais pensava, mais sentia que estava a ser injusta contigo. Talvez devesse ter-me mostrado uma pessoa melhor e mais justa no modo como te tratei. Mas esta não será a maneira mais normal de encarar as coisas. As raparigas da minha idade nunca usam a palavra “justo”. As raparigas normais da minha idade são basicamente indiferentes ao facto de as coisas serem justas ou não. A questão central para elas não reside no facto de algo ser justo, mas se é ou não belo ou se as fará felizes. «Justo» é, sem dúvida, uma palavra que os homens usam, mas sinto que é também a palavra que agora se aplica exactamente a mim. E como, segundo creio, as questões de beleza e felicidade se tornaram agora em asserções tão difíceis e retorcidas, dou por mim a reger-me por outros padrões: por exemplo, se algo é ou não justo ou honesto, ou universalmente verdadeiro.
De qualquer modo, creio que não tenho sido justa contigo e, em resultado disso, talvez te tenha confundido e magoado profundamente. Ao fazê-lo, porém, também me confundi a mim própria e magoei-me profundamente. Não digo isto como desculpa ou como forma de justificação, mas porque é a verdade.
p. 109, 110

1 comentário:

  1. Este livro é fantástico x)

    Recomendo este livro a todo o mundo, toda a gente devia ler este livro e perder uns minutos da sua vida a pensar sobre ele e sobre o que lá é dito.

    Não tenho mais palavras, é dos meus livros favoritos de todos os tempos x)

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