Terminei a leitura d’A Servidão Humana de William Somerset Maugham. Adorei!
É uma obra fantástica que nos aproxima das personagens de tal modo que se torna um vício a sua leitura e é complicado pousar o livro.
Não é uma autobiografia mas, tal como diz o autor, é “um romance autobiográfico”. De facto, após ter lido um pouco sobre o autor encontrei algumas semelhanças com a personagem principal, Philip.
A obra centra-se em Philip e no trajecto que este faz ao longo da sua vida. Ele desde cedo fica órfão, sendo que após perder a mãe se muda da cidade de Londres para o campo, onde vai viver com os seus tios. O seu tio é um vigário e então desde cedo Philip é confrontado com um mundo onde predomina a religião, sendo que depois frequenta um colégio interno também ele associado à vida religiosa. Philip tem uma deformidade: pé boto. Isto é e sempre foi o ponto fraco dele. É a sua fraqueza e de imediato sente isso quando é confrontado com os diversos olhares e até palavras pelo colégio. Mas esta fraqueza impera ao longo da sua vida… O Philip vai deixar-se afectar por esta deformidade ao longo dos anos descritos na obra. Apenas no fim, quando ele chega ao final da procura de si mesmo, me parece ter chegado também ao final desta fraqueza.
Os mais afortunados na vida são os que têm tão pouca consciência de si mesmos como as abelhas numa colmeia, pois têm mais probabilidades de serem felizes: as suas actividades são partilhadas por todos e os seus prazeres são apenas isso, prazeres, porque desfrutados em comum P. 56
Philip sempre tivera um gosto pela leitura e esta fazia com que ele tivesse o desejo de conhecer o mundo. Essa imaginação e o facto de viver no litoral ao pé do mar fazia com que Philip desejasse “navegar por mares nunca antes navegados” e partisse em descoberta do desconhecido. É com este desejo de liberdade que ele deixa o colégio, deixa o mundo religioso e parte para a Alemanha.
Liberdade! Finalmente era dono de si mesmo. Por força de hábito, agradeceu inconscientemente a Deus por já não acreditar n’Ele. P. 136
Quando volta da Alemanha para junto dos seus tios, Philip vai para Londres e começa a trabalhar na área de contabilidade. Estava sozinho preso ao cálculo e à infelicidade. Decide então “libertar-se” novamente e vai para Paris. Decide ser pintor.
O que sou capaz de fazer é o único limite do que posso fazer. P. 242
Após uns anos Philip começa a reflectir se seria essa a melhor opção de vida e reconsidera voltar para Inglaterra. Quando a sua tia morre ele volta para casa definitivamente. É aqui que ele decide regressar a Londres, mas desta vez para ser médico.
Uma juventude feliz é pura ilusão, a ilusão daqueles que a perderam. P. 139
A vida não valeria a pena ser vivida se me preocupasse com o futuro e ao mesmo tempo com o presente. Quando as coisas estão na pior fase acontece sempre alguma coisa. P. 365
Agia como se fosse uma máquina movida por duas forças, o ambiente que o rodeava e a sua personalidade; a sua razão era um espectador que observava os factos sem poder interferir. P. 446
Entre a medicina, o amor, a paixão e a tristeza surgem muitos episódios e muitas situações que levam Philip a percorrer um caminho muito conturbado.
Um caminho onde ele é servo. Um caminho onde ele procura ser feliz e não consegue. Apenas no fim ele alcança o que procurava.
Achei notável este trajecto e achei fantástica a narração por parte do autor. Uma bela obra que aconselho a lerem. Ajuda, acima de tudo, a reflectir sobre a "servidão humana" e de como é sermos servos da selva humana. Ajuda, acima de tudo, a reflectirmos na simplicidade com a qual podemos encarar a vida e as nossas decisões, recorrendo sobretudo a nós mesmos e não às nossas expectativas.
Eu sabia que tu ias gostar deste livro e por isso é que to ofereci :p
ResponderEliminarNunca duvidei que ias achar a "viagem" dele pela "selva humana" como tu disseste, algo de muito interessante.
Espero que se transforme num livro especial para ti, acho que tem muito a ver contigo ;P
Bjinhos *
(miss you)